22/02/2008 - por Thiago Rahal
Agradecimentos à Eliton Tomasi

Lançamento do álbum The 7th Dimension, show de abertura para o Dream Theater após escolha do próprio Mike Portnoy, Hugo Bertolaccini substituindo tecladista do Thessera na Holanda, são muitas as novidades do Deventter para este 2008. Conheça melhor o trabalho desta banda, originada em Campinas, que segue a escola do prog metal e alcança atualmente uma boa visibilidade na cena nacional com muitos elogios por parte da imprensa brasileira e a possibilidade de uma tour nacional/internacional. Entrevista exclusiva do Metal Revolution com todos membros da banda.

Thiago Rahal - Primeiro, gostaria de agradecer por essa entrevista e elogiar pela conquista que vocês obtiveram ao serem reconhecidos pelo Mike Portnoy e Dream Theater. Não vamos falar somente sobre isso, mas como foi para a banda a noticia de ter sido escolhida para abrir o show dos americanos em Belo Horizonte?
Danilo Pilla -
É um prazer, Thiago. Quando recebemos o email do Mike Portnoy, ficamos eufóricos. Foi uma mistura de realização com a certeza de que a partir daquele momento muita coisa iria mudar para o Deventter. Realmente, foi uma recompensa de todo nosso trabalho e a certeza de que valeu muito a pena todo o nosso esforço.

Thiago - Sempre rolam aqueles boatos que as bandas brasileiras pagam grana alta para abrir shows de bandas internacionais. Gostaria que vocês falassem sobre isso...
André Marengo -
Todo mercado possui características diferenciadas dos demais. E o que nos chama mais a atenção no meio musical é o companheirismo, as amizades que estamos fazendo, a paixão pela música e pela expressão de sentimentos através da arte, com algo que seja realmente verdadeiro. O dinheiro é conseqüência de um trabalho bem feito. E o reconhecimento também. Mas infelizmente, algumas bandas extrapolam esse limite. No caso da abertura do show do Dream Theater em BH, como citamos acima, o que nos deixou extremamente felizes foi o fato de sermos escolhidos pelo próprio Mike Portnoy! Não houve nenhum dinheiro envolvido. Essa foi uma atitude digna do Portnoy, da qual seremos eternamente gratos. Que isso sirva de exemplo a algumas bandas.

Thiago - Conhecendo um pouco a carreira do Dream Theater e seus integrantes, vejo que eles sempre se mostraram exigentes quanto as suas bandas de abertura. Isso prova que desde o começo ele viu o que eu também vi em vocês, muita qualidade e propostas inovadoras. Quais eram as suas principais propostas e intenções ao formar o Deventter?
Hugo Bertolaccini -
A mesma do que muitas outras bandas quando formadas enquanto os integrantes ainda são muito jovens: ser como nossos ídolos! Naquela época não tínhamos muita noção do que era e do que viria a ser o Deventter, apenas queríamos ser como os nossos ídolos. À medida que o tempo foi passando, fomos crescendo, evoluindo como pessoas e como músicos. Ficamos mais críticos, aprendemos a diferença entre “ser igual aos seus ídolos” e “ter a influência de seus ídolos”. Isso influenciou e influencia muito nossa maneira de compor e trabalhar com a banda.

Thiago - Como vem sendo a repercussão do disco no Brasil e no Exterior?
Felipe Schäffer -
A repercussão tem sido ótima. O trabalho está apenas começando, mas já recebemos resenhas ressaltando muito a qualidade musical da banda, tanto no Brasil quanto no exterior. A aceitação tem sido muito boa. Em nosso país, a maioria das resenhas criticou muito a cena brasileira, e isso nos chamou a atenção para o fato de que devemos trabalhar bastante não só pela banda, mas pela cena em geral. È uma batalha diária. Quanto ao exterior, o Hugo, que substituiu o tecladista do Thessera, Rodolfo Amaro, no primeiro show da turnê européia deles, no ElsRock Open Air 2007, na Holanda, festival que contou com bandas como Nevermore, Dream Evil, etc., sentiu a receptividade de críticos renomados quanto à nossa sonoridade. E isso foi muito gratificante.

Thiago - Em minha resenha, disse que as várias nuances e contratempos, foram as principais qualidades que vi em seu álbum. Isso veio naturalmente por tocarem o chamado prog metal, ou a banda realmente teve essa proposta desde seu início?
Caio Teixeira -
Nós trabalhamos bastante em “nuances e contratempos” porque gostamos mesmo, e não para nos adequarmos a um estilo ou outro. Mas não podemos negar que muitas bandas de Prog Rock/Metal fazem um ótimo trabalho nesse aspecto e, com certeza, serviram de influência para banda. Quanto às composições do Deventter, sinto que, como baterista, minha maior contribuição musical seja na parte rítmica, portanto, insisto bastante com a banda para focarmos nisso também, além das harmonias. E é claro que tenho total apoio, já que todos na banda gostam bastante dessa “tarefa”. Para se ter uma idéia, em alguns ensaios, ficamos horas trabalhando em ritmos, contratempos e outras “brincadeiras” que num primeiro momento achamos engraçadas e colocamos de lado mas que depois acabam virando parte de alguma música. Ouvindo a música “The Longest Day Pt. IV - Depression”, fica mais fácil entender essas características do som do Deventter.
André Marengo -
O Caio não só está contribuindo com a parte rítmica, como também está compondo alguns riffs na guitarra, ou melhor, no seu velho violão. E acreditem, eles estão ficando muito bons. Bom, eu e o Pilla vamos ficar de olho. Não queremos perder nosso cargo na banda!! rs

Thiago - Como é trabalhar em Campinas, uma cidade do interior paulista, que apesar de ter uma população relativamente grande, não tem a mesma influência que São Paulo no cenário nacional. Quais são os planos da banda nesse quesito?
André Marengo -
Nós temos um pequeno estúdio de ensaio nos arredores de Campinas. E, estrategicamente falando, é mais fácil para todos nós nos encontrarmos lá. Afinal, três integrantes são de Campinas e três de São Paulo. Quanto à cidade de Campinas, é um grande município com ares de interior. E a cena por aqui está crescendo, o que é ótimo. Com certeza, é um grande ponto de partida para o Deventter.

"Quando recebemos o email do Mike Portnoy, ficamos eufóricos. Foi uma
mistura de realização com a certeza de que a partir daquele momento muita
coisa iria mudar para o Deventter. Realmente, foi uma recompensa de todo nosso
trabalho e a certeza de que valeu muito a pena todo o nosso esforço."
- Danilo Pilla

Thiago - A produção do disco surpreendeu e ficou muito boa, apesar de que, achei a bateria bastante abafada. Foi proposital? Acreditam que não perdemos em nada para outros paises no que diz respeito aos estúdios de gravação?
Caio Teixeira -
Todo o processo de gravação e mixagem do “The 7th Dimension” foi muito corrido, tanto por falta de dinheiro, como por falta de tempo. Todos da banda estudam e/ou trabalham e, além disso, na época, morávamos em cidades diferentes (dois em São Paulo Capital e quatro em Campinas), portanto, não nos víamos muito freqüentemente antes e durante as sessões de gravação e de mixagem, que eram feitas em fins de semana. Tudo isso aliado à pouca experiência que tínhamos em estúdio comprometeram um pouco as timbragens dos instrumentos e a forma como gravamos as músicas, principalmente em relação à bateria, que é um instrumento que precisa de muito cuidado para ser gravado (microfonação das peças, ambiência, etc.), até porque não queríamos usar nenhum tipo de “sound replacer” ou coisas do gênero. Temos plena consciência de que apanhamos bastante, mas encaramos tudo como um grande aprendizado e temos certeza que saímos ganhando com essa grande experiência que foi gravar o “The 7th Dimension”. O que podemos adiantar é que, mesmo com pouco tempo e dinheiro e ainda morando em cidades diferentes, o próximo Cd, que já está sendo composto, receberá um tratamento especial quanto às gravações, mixagens e masterização. A versão que fizemos da música “Eleanor Rigby”, dos Beatles, disponível para download no myspace da banda, já demonstra a sonoridade que estamos procurando para o próximo trabalho do Deventter. Quanto à última parte da pergunta, acreditamos que o Brasil tem grandes estúdios e ótimos profissionais na área. Agora que estamos mais “calejados”, começamos a buscar informações mais detalhadas sobre estúdios de gravação e temos encontrado muitas boas opções. No mais, não podemos negar que gravar um Cd ficou bem mais fácil, porém continua sendo caro fazer um trabalho à altura das bandas internacionais que costumamos ouvir.

Thiago - O disco começa com uma abertura inusitada, de nome “Birth”, quem teve essa idéia? Gostei da idéia de passar algo antigo, mas ao mesmo tempo atual...
Felipe Schäffer -
Acabou sendo uma idéia quase que coletiva. O conceito de origem que o gramofone traz é muito forte em um contexto musical, uma vez que foi um dos primeiros aparelhos de som da história. Quisemos nessa faixa trazer essa idéia para nossa música e para o conceito do “The 7th Dimension”. Para isso, gravamos o som de um gramofone que tenho em casa e mixamos com algumas vozes e mensagens presentes ao longo do disco. É, portanto, um conceito de geração da vida, que passa de um mundo espiritual para um universo ou dimensão material, que a nosso ver é um processo um tanto quanto conturbado.

Thiago - “A Paradox Of Self Destruction” se saiu bem como música abertura, tipicamente prog metal com partes bem técnicas e interessantes. Ela define o som do Deventter?
Danilo Pilla -
Acredito que sim, pois é uma música que engloba várias características da banda. Ela se desenvolve como um resumo das outras músicas, transmitindo peso, belas harmonias, “quebradeiras” e refrões marcantes.
André Marengo - Se escutarem com atenção o disco, perceberão que várias faixas estão interligadas. Há melodias de uma música que aparecem de maneiras diferentes em outra. E o resultado ficou bem interessante, afinal, a história do “The 7th Dimension” também está toda interligada.

Thiago - Mas o grande destaque para mim é a suíte de “The Longest Day”. Uma dúvida que me persiste, quando vocês criam as músicas, elas saem grandes naturalmente ou faz parte do estilo ser assim?

Caio Teixeira - Tentamos ao máximo não limitar nossa criatividade, portanto, quando estamos compondo, tocamos a música até acharmos que está boa. Às vezes isso leva uns 18 minutos, que é o caso da “The Longest Day”; aliás, o nome caiu bem nela. E uma coisa que os músicos hão de concordar é que quando se está tocando os minutos parecem passar mais depressa. Resumindo, elas saem grandes naturalmente, o que acaba se tornando uma característica do nosso estilo.

Thiago - Uma pergunta para o vocalista Felipe Schaffer. Quais são suas influências e qual canção teve mais dificuldade em cantar neste disco, pois na minha opinião você foi o grande destaque.
Felipe Schäffer -
Muito obrigado pelo elogio! Bom, em termos de dificuldades nós sempre temos que buscar nossos limites e tentar superá-los conforme podemos. Na hora de compor as melodias vocais sempre penso naquilo que se encaixaria melhor tanto em minha textura quanto em meu timbre de voz. Portanto, em geral é difícil apontar em quais pontos tive mais ou menos dificuldade pra cantar uma vez que todas as melodias foram feitas “sob medida”, digamos assim. Mas pensando bem, acredito que a parte que mais demorei para gravar foram os refrões da “A Paradox Of Self Destruction”. Em termos de influências sempre busco perceber a musicalidade de vocalistas em geral. Presto muita atenção em como trabalham principalmente a interpretação do que estão cantando. Posso dizer que admiro muito o trabalho de vocalistas como Freddie Mercury, Mike Patton, Bob Mcferrin, Matthew Bellamy, Zach Stevens, Serj Tankian, o trabalho vocal da banda do Zappa, entre outros cantores que colocam realmente a alma naquilo que estão fazendo.

Thiago - Você teria algum parentesco com Jon Shaffer do Iced Earth, já que esse sobrenome não seria nem um pouco comum aqui no Brasil?
Felipe Schäffer -
Essa pergunta sempre soa engraçada pra mim. Por incrível que pareça, esse sobrenome não é tão incomum aqui no Brasil. Mas muitas pessoas já me fizeram essa mesma pergunta e algumas acabam até achando que eu uso esse nome justamente por causa do John Schaffer. Mas esclarecendo, eu não tenho nenhum parentesco com ele (não que eu saiba). Esse é realmente meu sobrenome.

"Acabou sendo uma idéia quase que coletiva. O conceito de origem que o gramofone traz é muito forte em um contexto musical, uma vez que foi um dos primeiros aparelhos de som da história. Quisemos nessa faixa trazer essa idéia para nossa música e para o conceito do “The 7th Dimension”. (...) É, portanto, um conceito de geração da vida, que passa de um mundo espiritual para um universo ou dimensão material, que a nosso ver é um processo um tanto quanto conturbado. " - Felipe Schäffer

Thiago - Quais os cinco melhores álbuns na opinião da banda?
Deventter -
Achamos melhor cada um falar um Cd, assim não brigamos e mantemos a linha democrática da banda:
Felipe Schäffer - Muse - Absolution
Caio Teixeira -
Genesis – Selling England By The Pound
Danilo Pilla -
Dream Theater – Scenes From A Memory
André Marengo -
Metallica – Ride The Lightning
Leonardo Milani -
Pain Of Salvation - Be
Hugo Bertolaccini -
Grand Funk Railroad - Closer To Home

Thiago - O que estão escutando ultimamente e recomendam para seus fãs e público no geral?
Deventter -
Estamos sempre escutando bandas diferentes, pesquisando músicas, mas o que lembramos no momento foram as bandas: Freak Kitchen, Slavior, Grand Funk Railroad, Rammstein, Black Label Society, The Black Crowes, The Decemberists, Muse, Gov’t Mule, David Gilmour, Serj Buss, etc.

Thiago - Outro fator interessante está no fato de vocês trabalharem com duas guitarras na banda, o que normalmente não acontece, sempre uma guitarra e um teclado. Como fazer para extrair o melhor das duas guitarras sem ficar muito embolado?
Danilo Pilla -
Tudo surge naturalmente. Um dos fatores é o nosso entrosamento, afinal o André Marengo e eu tocamos juntos há aproximadamente 13 anos. Outro fator é que ambos temos estilos próprios e diferentes, então dificilmente tocamos a mesma coisa. Portanto, quando mesclamos esses estilos, fica evidente que estamos escutando duas guitarras, uma completando a outra.
André Marengo -
Nós somos amigos de infância, e tocamos guitarra juntos desde os 12 anos de idade. Cada um seguiu um caminho diferente, com outras bandas, até nos encontrarmos novamente no Deventter. Porém, sempre acompanhamos de perto o trabalho do outro. Compartilhar as guitarras no Deventter é uma grande alegria, e o entrosamento que temos só colabora com as músicas da banda. Cada um possui um estilo diferente, e quando tocamos, sabemos o que fazer instantaneamente, como colocar uma guitarra que não embole ou atrapalhe a melodia do outro, ou às vezes um dos guitarristas não tocar nada em certas partes das músicas, focando no que ela pede. Mas com certeza, o que nos faz extrair o melhor das duas guitarras é a amizade que temos.
Hugo Bertolaccini (intrometendo) -
Duas guitarras com estilos completamente diferentes. Imagina o tecladista como sofre!

Thiago - Qual a opinião da banda sobre o download ilegal das músicas? Como se adequar ao novo mercado que assola o mundo da música.
André Marengo -
O download ilegal de músicas é um assunto um tanto quanto delicado. Como definir o valor da arte? A arte é algo para ser compartilhado ou vendido? Acredito que há outras maneiras de se ganhar dinheiro com música. Porém, o direito autoral do artista deve sempre ser respeitado. Mas conhecer o limite entre uma coisa e outra não é fácil. O fato é que a indústria fonográfica cavou sua própria cova. Ela não se preparou para as mudanças advindas da internet e das novas tecnologias. E mais, detinham meios importantes de comunicação e lançavam no mercado qualquer coisa, pensando somente no lucro. E isso a ajudou a se afundar mais. Talvez se tivessem trabalhado um relacionamento melhor e mais direto com seus “clientes”, os apaixonados por música, a história seria outra. Temos que ficar extremamente antenados às mudanças de mercado. Estamos caminhando em areia movediça.
Leonardo Milani -
Realmente, esse é um assunto um tanto quanto complicado, mas é impossível evitá-lo. Não temos como negar, toda música é um produto de entretenimento, uma mercadoria com valor de troca, mas também é arte, é cultura, e todos possuem o direito de ter acesso a isso. Eu pessoalmente acredito que não temos meios de impedir downloads de músicas, e, para falar a verdade, não sei nem se devíamos. Como já disse o André, boa parte da culpa é das próprias gravadoras que não se adequaram às mudanças do mundo, e isso é particularmente fácil de perceber no mercado brasileiro: os CDs estão muito caros e não vivemos em um país particularmente rico. As pessoas tendem a comprar apenas os CDs de músicos que gostam muito, o que atrapalha bastante a ascensão de bandas novas, principalmente as independentes. Quem vai pagar trinta reais para conhecer uma banda nova? Muito mais fácil e barato entrar no e-Mule e baixar o disco de uma vez. Mas não podemos enxergar as coisas apenas de um lado, pois esses mesmos downloads ilegais abrem muitas portas para a divulgação de artistas que não conseguem divulgar suas obras pelos meios convencionais. Como nos adaptar? Essa é uma pergunta pertinente, mas infelizmente não temos como respondê-la ainda. Creio que esses downloads não vão cessar mesmo com as associações como a RIAA tentando bloqueá-los de todas as maneiras que conseguem. Cabe a nós utilizá-los para o nosso próprio bem.

Thiago - Fora o show de abertura para o Dream Theater, existem planos para uma turnê nacional ou até mesmo internacional?
Hugo Bertolaccini -
Sim, claro! Estes planos não vieram depois da escolha do Mike Portnoy. Estávamos pensando nisso há alguns meses, principalmente depois de minha participação em um show do Thessera na Holanda, ano passado. Não temos uma data definida ainda, estamos planejando para que tudo aconteça no seu devido tempo. Afinal, não somos somente músicos, temos nossas famílias, trabalhos e estudos que precisamos conciliar. É inegável que, após a notícia da abertura para o DT, ficamos mais expostos e a divulgação do “The 7th Dimension” recebeu um injeção de adrenalina, forçando a banda a fazer mais shows. Uma turnê nacional? Sim! Internacional? Sim! Mas como disse anteriormente: tudo acontecendo no seu devido tempo.

Thiago - O cenário brasileiro é muito grande, mas ao mesmo tempo, poucas bandas conseguem sucesso realmente internacional. Por que isso acontece, na opinião do Deventter?
André Marengo -
Na minha opinião, isso acontece devido à estrutura que temos no país. Pense nos anos 80, o movimento de Heavy Metal no país era muito intenso, porém poucas bandas se sobressaíram. Imagina como era difícil divulgar suas músicas, fazer shows e eventos, gravar cds com qualidade e crescer sem ter quase ou nenhuma estrutura mercadológica. Hoje, a tecnologia e o acesso rápido ao mundo pela internet abriram caminhos até então não desbravados. E isso facilitou o acesso das bandas nacionais a parceiros, gravadoras, empresas do meio e bandas internacionais. Através disso, desse relacionamento e de um trabalho incessante, tudo é possível
Leonardo Milani -
Acho que isso tem diversos motivos. Para começar, devemos pensar que estamos num país subdesenvolvido e que consumir música é um luxo que poucos têm, logo, as rádios/gravadoras/lojas tendem a dar preferência às músicas mais populares, aproveitando o que já está na moda, o que dificulta e muito o trabalho de bandas de estilos diferentes no país. As que conseguem alguma exposição por aqui normalmente não são de estilo que agradam o público internacional, então acabam ficando "presas" no país. Quanto às bandas brasileiras de rock mais pesado ou progressivo, que na maior parte das vezes apresentam letras em inglês, fica claro que o sucesso no Brasil vai ser bem limitado devido à nossa cultura popular. E, querendo ou não, sem divulgação no próprio país, o caminho para fora fica mais complicado. A saída é buscar diretamente o reconhecimento lá fora, quase que pulando uma etapa que não pode ser cumprida. Já ouvimos de muita gente que estamos no país errado, ou seja, que nossa música deve agradar mais pessoas de outros países. Não pensamos assim, pois queremos trabalhar nossa música aqui e fortalecer a cena brasileira, mas entendemos o recado que querem nos passar.

Thiago - Muito obrigado pela entrevista, o espaço é de vocês para maiores considerações...
Deventter -
Nós que agradecemos pela oportunidade, Thiago. Queremos agradecer a todos os parentes e amigos que nos ajudaram a chegar aonde chegamos. O suporte de todos foi muito importante para que o nosso trabalho se concretizasse. E vamos ficar de olho no cenário nacional. Tem muita coisa boa acontecendo por aqui! E ótimas bandas surgindo! Somos nós todos que fazemos a cena.