13/07/2006 - por Thiago Rahal - fotos por Carina Zaratin

Se cantar em uma banda famosa e reconhecida no mundo inteiro já era um sonho realizado por Edu Falaschi, o vocalista da banda Angra resolveu que sua música deveria seguir outros ares, além é claro de contar com as suas influências habituais que o tornaram um dos maiores cantores do Brasil e do mundo. Buscando o Heavy Metal tradicional e trazendo letras que buscam o sentimento, o vocalista nos contou como foram as gravações do álbum Almah, sobre as participações especiais e também sobre o sucessor do Temple of Shadows.

Thiago Rahal: Gostaria de saber quando você sentiu que estava preparado para gravar um álbum solo. A responsabilidade de gravar algo diferente atrapalhou? Digo isto, pois agora você é o vocalista da banda Angra e não mais um cantor em começo de carreira.
Edu Falaschi: Eu me senti realmente preparado pra assumir a responsabilidade de todo um projeto em meados de 2005, quando vi que eu tinha um monte de músicas com um grande potencial. O fato de o Almah ser bem diferente do Angra veio naturalmente, pois as músicas já eram bem diferentes do estilo do Angra.

Thiago: E de onde surgiu a idéia do nome Almah? Foi algo que aconteceu na sua vida ou era simplesmente o que estava sentindo na época em que começou a gravar o álbum?
Edu: Eu queria um nome que fosse forte o bastante pra representar o que está contido no álbum, e “almah” é a melhor definição para esse meu projeto, pois após estudar bastante pra letras eu acabei escolhendo essa palavra que tem um significado interessante na história e soa em português como “alma”, além de estar ligado ao contexto geral do álbum.

"Eu queria um nome que fosse forte o bastante pra representar o que está contido no álbum, e “almah” é a melhor definição para esse meu projeto" - Edu Falaschi

Thiago: Você buscou uma sonoridade própria para o disco ou as músicas saíram naturalmente?
Edu: Tudo veio muito naturalmente, mas eu tinha uma visão clara do que eu queria, algo pesado, direto e moderno, mas ao mesmo tempo com sofisticação e melodia.

Thiago: Todas as músicas são de sua autoria? As letras e o instrumental foram criados somente por você, ou teve alguma parceria?
Edu: Sim, são todas de minha autoria, letra e música. Todos os arranjos de todos os instrumentos foram feitos por mim também, além de tocar todos os violões, o que foi bem legal. A parceria veio em forma de amizade e respeito mútuo.

Thiago: Quando decidiu gravar Almah, você já tinha algumas cartas na manga ou o processo de composição foi realizado no momento em que você decidiu que iria fazer o disco? Existe alguma música da época do Symbols ou até mesmo sobras do Angra?
Edu: Eu fui compondo sem limites, daí eu já tinha um monte de músicas prontas e achei o melhor momento pra fazer o projeto acontecer, são todas músicas inéditas. Eu não gosto de aproveitar coisas antigas é muito raro eu fazer isso.

Thiago: Poderíamos dizer que Almah é o disco definitivo de Edu Falaschi, ou seja, o seu jeito de cantar ou a sua maneira preferida de cantar está nesse álbum?
Edu: Sim, fiz tudo do meu jeito, a minha maneira e pra minha região de voz, além de estar gravando músicas no estilo que eu adoro cantar, tudo sob medida.

Thiago: A música “King”, que abre o disco, tem um riff marcante e que lembra os trabalhos solo de Rob Halford, principalmente no álbum “Ressurection”. Este cd e bandas que fazem um som mais pesado são influências para você? Conte-nos como surgiu a idéia dessa canção.
Edu: Essa música surgiu com o Riff de guitarra do começo, daí dei seqüência no som, acho que foi a música que eu compus mais rápido nesse álbum.

Thiago: Almah é um disco conceitual? Se sim, qual seria o tema principal? Se não, as letras têm um foco central?
Edu: Não é um disco conceitual. Eu falo dos sentimentos humanos. Falo de emoções que estão presentes na vida de todo mundo, e para ilustrar cada letra eu usei fatos históricos passados ou recentes, são vários assuntos que se interligam de alguma forma.

Thiago: “Take Back Your Spell”, lembra mais seus trabalhos com o Angra. Essa mescla entre o que você gosta de cantar e o que os fãs gostam de ouvir é o que podemos esperar em Almah?
Edu: Certamente não, eu fiz esse disco pensando somente nas músicas, sem forçar a barra. É um álbum sem limites. sem ter que provar nada. É puramente música e isso basta.

Thiago: Você liberou somente essas duas músicas para as rádios e diferente do Temple of Shadows, o mesmo não vazou na Internet antes de seu lançamento. O que você pensa a respeito disso? É a favor da MP3, ou condena quem baixa o disco inteiro e depois não o compra.

Edu: Eu não sou a favor de MP3 grátis, mas também não sou a favor de um cd custar R$ 30,00. Mas o governo não ajuda com tantos impostos, e o povo não luta pra mudar as coisas, resumindo é uma tremenda bola de neve. Pra não dizer “bola de lixo”.

Thiago: Hoje em dia, está muito fácil gravar algo e ao mesmo tempo mandar o que foi gravado pela Internet. Como foram feitas as gravações das participações especiais? Eles foram ao estúdio, ou gravaram em suas cidades e enviaram para você.
Edu: O Casey gravou a batera nos EUA e me mandou pela net, já as guitarras e baixo eu fui pra Finlândia acompanhar e fiquei na casa do Emppu durante uns 15 dias, daí voltei pro Brasil com as bases prontas, nesse meio tempo o Mike Stone me mandou o solo pela Internet e todo o resto eu fiz aqui em São Paulo.

Thiago: Se possível comente como chegou a cada um dos convidados especiais:
Edu:
Casey Grillo (Kamelot), Emppu Vuorinen (Nightwish) e Lauri Porra (Stratovarius) -
Os três eu conheci nas turnês com Angra, são grandes amigos e pessoas maravilhosas. Foi natural chamá-los, pois eles eram perfeitos pro estilo de som que eu estava buscando.

Mike Stone (Queensryche) - Eu comentei pro Casey que precisava de um solo de guitarra tipo “Queensryche” e ele disse, “por que não o próprio Mike Stone?”, daí eu falei com o Mike, que foi muito gente fina, no mesmo dia ele gravou o solo e me mandou.

Edu Ardanuy (Dr. Sin) - Ter o Edu no meu disco foi uma grande honra, eu o considero uns dos melhores e mais completos guitarristas do mundo, aliás, o Dr. Sin inteiro participou do meu cd, foi perfeito ter músicos tão bons, como foi o caso do Andria e do Ivan Busic.

"fui compondo sem limites, daí eu já tinha um monte de músicas prontas e achei o melhor momento pra fazer o projeto acontecer, são todas músicas inéditas" - Edu Falaschi

Tito Falaschi - Não o convidei pra cantar comigo por ele ser meu irmão e sim por ele ser um músico fantástico, canta muito bem, toca vários instrumentos maravilhosamente bem, além de ser um puta compositor. Sou um cara de sorte por tocar sempre com músicos fantásticos, tanto no Angra, que tem alguns dos melhores músicos do mundo, quanto no Almah que só tem gente do melhor gabarito.

Thiago: Por que você não convidou músicos brasileiros? Foi uma opção sua convidar esse pessoal todo ou quando surgiu à oportunidade não teve como recusar?
Edu: Sou muito amigo do Emppu, do Lauri e do Casey e isso facilitou tudo já que eu tinha vontade de gravar com músicos de outros países, estou sempre tentando experiências novas. E essa experiência foi demais. Mas tem um monte de músicos brasileiros participando, só músico de primeira qualidade.

Thiago: Você pretende fazer shows solo no Brasil e exterior? Se sim, quais seriam os músicos que o acompanhariam na turnê?
Edu: Eu pretendo realizar uma mini turnê, entre agosto e setembro, são todos brasileiros, Adriano Daga (batera), Giu Daga (guitarra), Demian Tiguez (guitarra) e Tito Falaschi (baixo), talvez o Fábio Laguna nos acompanhe em alguns shows, já estamos ensaiando e ao vivo as músicas estão soando absurdamente bem, esses shows será uma grande surpresa pra muita gente.

Thiago: Gostaria que comentasse os álbuns das pessoas que participaram do Almah: Kamelot - The Black Halo, Nightwish – End of an Era, Stratovarius – Stratovarius, Queensryche – Operation Mindcrime: Part 2 e Dr. Sin – Listen to Doctors.
Edu: todos essas bandas são fantásticas! alguns dos últimos álbuns deles eu ainda não escutei, mas certamente é coisa boa.

Thiago: A capa do disco Almah conseguiu retratar o que você queria passar para seus fãs? Qual o autor da mesma e se você deu idéias de como queria que ele a desenhasse.
Edu: Sim, ficou exatamente como eu queria! Retrata bem o espírito do disco, é uma capa simples, bonita, sóbria e passa a sensação de algo ligado aos nossos sentimentos, tem os elementos de corpo, mente e alma, que é o que eu coloquei nesse trabalho, além de outros sinais com diversos significados. O autor da capa é o Luciano Sorrentino, amigo meu. Ele já fez alguns trabalhos pro angra. É um cara com uma linguagem moderna, tudo o que eu queria.

Thiago:  Cite os 5 melhores álbuns da história na sua opinião:
Edu: Dio - The Last In Line, Black Sabbath - Born Again, Supertramp - Paris, Iron Maiden - Powersalve e Black Sabbath - Mob Rules.

Thiago: Recentemente Michael Kiske discutiu com um jornalista europeu sobre a importância das resenhas de cds, pois segundo ele muitas pessoas falam coisas que não deviam. O que pensa a respeito disso? Alias, ultimamente você não tem gostado de algumas resenhas de shows não é mesmo?
Edu: Eu acho que em muitos casos os responsáveis por resenhas, são apenas fãs e não jornalistas ou alguém qualificado para tal função. Hoje em dia na Internet, todo mundo tem voz ativa e pode fazer qualquer coisa sem nenhuma noção de responsabilidade.

Thiago: Você foi convidado para participar do projeto “Mikeyla Feat. The Metal Forces – Glorious”, encabeçado pelo baterista do Masterplan Uli Kusch. Como foram as gravações e o que você achou do resultado final, o disco tem previsão de lançamento no Brasil?
Edu: Foi muito legal o Uli ter me pedido pra representar o me-

tal brasileiro, foi uma honra participar do projeto, gravei aqui mesmo no Brasil e depois mandei pra ele. O resultado ficou muito bom, é uma música de comemoração da copa do mundo na Alemanha, tem bem esse clima. Não sei se vai ser lançado no Brasil, tomara que sim.

Thiago: E falando ainda sobre o projeto que inclusive é ligado com futebol e principalmente a copa do mundo, o que você tem visto de bom no torneio que está acontecendo na Alemanha?
Edu: Eu acho que a competição está bem equilibrada, não tem nenhum time completamente superior aos outros, nem mesmo o Brasil que acabou de ser desclassificado. De bom mesmo é ver a emoção e a garra do Felipão que comanda a seleção de Portugal. espero que eles sejam campeões.

Thiago: Vamos falar sobre as gravações do sucessor do Temple of Shadows. O que os fãs podem esperar do novo álbum?
Edu: É um disco forte, direto e mais simples do que o “TOS”, não gosto muito de ficar falando como é ou como não é um disco, música não se explica na minha opinião, é algo que está ligado diretamente às emoções, a galera tem que escutar e gostar ou não, esse é o ponto.

Thiago: Rebirth seguiu a linha mais tradicional e melódica do Angra. Temple of Shadows o lado mais progressivo. O próximo álbum será uma mescla dos dois ou terá músicas mais pesadas?
Edu: O peso é o fator mais marcante do novo álbum.

Thiago: Dessa vez será como no disco anterior, onde o guitarrista Rafael fez todas as letras do álbum e a banda a parte instrumental, ou todos irão participar do processo de composição?
Edu: Todos estão participando, provavelmente terão letras não só do Rafael.

"fui compondo sem limites, daí eu já tinha um monte de músicas prontas e achei o melhor momento pra fazer o projeto acontecer, são todas músicas inéditas" - Edu Falaschi

Thiago: Por que somente o Aquiles Priester foi gravar a bateria na Alemanha com o produtor Dennis Ward e o restante da banda aqui em São Paulo? Os estúdios daqui melhoraram em relação aos da Europa?
Edu: Com certeza, por mim gravaria tudo aqui, mas o Dennis Ward preferiu gravar a batera lá, o resto todo está sendo feito no Brasil.

Thiago: O novo álbum, assim como o anterior, terá participações especiais? Se sim, pode adiantar algo a respeito?
Edu: Acredito que não, mas pode ser.

Thiago: Como a banda concilia todos os Workshops e trabalhos paralelos e ainda conseguem fazer turnês e novos álbuns com o Angra?
Edu: É um trabalho de logística mesmo, conciliar as agendas não é tão fácil, e além de tudo tem a familia. É uma correria, mas eu não vivo sem isso. Amo o que faço e por isso não me canso. Farei uma pequena turnê com o Almah e logo entrarei numa com o Angra.

Thiago: Vocês foram escalados para o Brasil Metal Union 2006. Qual a importância desse show para a banda e vocês pretendem tocar alguma música nova nessa apresentação?
Edu: Eu desde o inicio do festival falava pro Richard que isso era muito importante pro rock no Brasil. Sempre apoiei e sempre vou apoiar. A banda Angra tocará só musicas antigas, eu acho.

Thiago: Edu, muito obrigado pela entrevista. O espaço é seu para deixar algum recado para seus fãs e leitores do Metal Revolution.
Edu: Muito obrigado a vocês pelo apoio!!! E um grande abraço aos meus queridos fãs e a todos os leitores do Metal Revolution!