CREDICARD
HALL, SÃO PAULO - SP
Review por Clayton Franco - Comentário por Eduardo 'Jack' Jr. - Edição por André Luiz Fotos por Ayane, Eduardo 'Jack' Jr., Clayton Franco (metalrevolution.net) e Thais Azevedo (Flick da Thais Azevedo) Noite calma em São Paulo, sem chuva, sem frio, sem um grande congestionamento... Mas uma grande expectativa no ar, pois não é toda vez que a Capital Paulista recebe uma das mais importantes bandas de heavy metal da história. Era um dia de sábado (dia de sabbath!), segundo dia da apresentação dos velhinhos (?) que hoje atendem pelo nome de Heaven And Hell. Não importa a alcunha pelo quais os chamamos, todos sabiam que ali estavam Tony Iommi, Geezer Butler, Ronnie James Dio e Vinny Appice, uma das mais importantes e bem sucedidas encarnações do Black Sabbath, agora atendendo pelo nome do primeiro disco gravado com Dio no vocal.
Prestando atenção mais detalhada no palco, enquanto a banda não subia, pude perceber que ele tinha a mesma concepção da tour do ano passado mas de uma maneira mais “pobre”. A decoração ainda era a mesma, uma grade entre pilastras neoclássicas como se formasse o gradil de uma antiga igreja ou cemitério. Nos fundos um pano que trazia pinturas de chapas de aço com vários galhos repletos de espinhos presos a estas chapas. O que pude perceber nas fotos dos shows do ano passado realizado em terras européias era que o pano de fundo imitava um grande muro de pedra, com um telão ao centro em formato de vitral de igreja gótica. Nos dois lados do palco havia uma grande porta de madeira em arco e o gradil do palco realmente parecia uma grade de aço, preso a pilastras de pedra. Em São Paulo isso não se traduziu no palco. Senti falta desta decoração. O pano de fundo foi mudado, não havia as portas de madeira lateral, a grade foi substituída por uma que imitava correntes, e as colunas que seguravam este gradil pareciam mais uma armação em que enrolaram um lençol. Mas o que realmente me deixou triste foi a falta do telão em forma de vitral nos fundos do palco. Tudo isso seria esquecido logo adiante, pois assim que a banda subisse ao palco, todos os olhos presentes estariam voltados para a banda em si. E foi realmente isto que ocorreu... As 22h30m, com meia hora de atraso, ecoa por todo o salão a introdução de “E5150” e todos os presentes começam a gritar. Aliás, já perceberam que o nome desta música é apenas uma maneira diferente de se escrever EVIL? Com números romanos? Enquanto rola a introdução e luzes azuladas dão um fúnebre ao palco, Tony Iommi, seguido pelo baixista Geezer e pelo vocalista Dio, adentram ao palco para dar início a porradaria da noite com “MOB RULES”. Uma ótima abertura para um show que prometia. Ao findar da música, jogaram ao palco uma bandeira do Brasil. Dio fez questão de pega-la e agradecer a receptividade, colocando a bandeira junto a parte elevada do palco onde estava montada a bateria, e lá ela permaneceu por toda a apresentação. Aproveitando a oportunidade, Dio anuncia que a próxima faixa foi a primeira que a banda compôs junto quando gravaram o álbum Heaven And e Hell. Tratava-se de “CHILDREN OF THE SEA”. Em minha humilde opinião, esta é uma das músicas mais bonitas da banda (talvez uma das mais belas que já ouvi em minha vida), e embora já tenha visto Dio cantá-la nos seus shows solos no Brasil, estar ali bem na frente do Iommi, que compôs esta melodia tão maravilhosa, me levou as lágrimas. Só isso já me valeu o ingresso. Tenho certeza que não fui apenas eu a me emocionar com sua execução, pois com a reação da platéia Dio agradece dizendo “Obrigado, vocês fazem com que nos sintamos em casa", mostrando todo seu carisma. Enquanto realiza este agradecimento ao público, Dio nota que alguns fãs estavam erguendo um cartaz, que na hora não pude perceber o que era. Todo sorridente, ele pede para que o cartaz seja trazido até o palco e chama a atenção de Geezer Butler para o que estava escrito. Quando o cartaz chega às mãos do vocalista, pude ver o que constava nele. Escrito em letras enormes e vermelhas estava os dizeres “Vegan Headbangers” fazendo alusão ao fato do baixista ser vegetariano convicto. Novamente agradecendo a recepção, Dio comenta que o álbum Dehumanizer é um disco que muitos fãs consideraram controverso e subestimam suas canções, mas a banda provaria que isso é falso. Neste momento Dio anuncia “uma grande música com um pequeno titulo” e dá-se a introdução de “I”. Neste momento pude ver a competência de Gezzer que mesmo com uma atuação contida e calma em seu canto, sem sair do lugar, atacava de forma brutal as cordas de seu baixo. Após uma faixa antiga, estava na hora de um momento muito aguardado por mim, tocariam uma do novo disco “The Devil You Know”, onde o titulo faz uma alusão sobre os seus membros realmente serem o Black Sabbath com um nome diferente. Não sei se ele já havia sido lançado no Brasil, pois as faixas que escutei foram através das que a banda disponibilizou em seu site oficial, mas estava ansioso para ver como elas seriam ao vivo. E isso não me decepcionou. Escolheram “BIBLE BLACK” para apresentar o novo disco ao público, e ela foi tocada de forma pesada e profunda, incrementada por um show de luzes vermelho-alaranjado que dava todo um complemento a música. Infelizmente, foi nesta faixa que senti que a banda foi mais prejudicada em relação ao sistema de som da casa. O microfone falhou por diversas vezes, e no final, quando as luzes se apagaram, pude ver que Iommi estava no canto do palco reclamando com alguém e apontando as caixas de retorno do palco (problemas a parte, ainda tínhamos um grande espetáculo que não estava nem pela metade).
Fim do momento solo do baterista, a banda retorna ao palco para executar mais duas faixas do último trabalho, me refiro a “FEAR” e “FOLLOW THE TEARS”. O novo álbum, até a data do show, ainda não havia sido lançado em terras tupiniquins de forma oficial pela gravadora. Mas devido à rapidez com que os novos álbuns são encontrados na net, o público já as conhecia e acompanhou a banda nessa nova etapa. Eu particularmente gostei muito do novo trabalho da banda, achei as músicas mais lentas do que as do álbum Dehumanaizer, que havia sido o ultimo com o Dio no vocal nos longínquo ano de 1992, mas embora mais lentas, são mais pesadas e melancólicas, algo que combina perfeitamente com a voz do baixinho. Entre essas duas músicas do novo disco, a banda tocou “FALLING OFF THE EDGE OF THE WORLD”. Antes de iniciá-la, novamente conversando com o publico presente, Dio fez questão de lembrar que esta faixa foi escrita em uma época em que o mundo era um lugar difícil para se viver. Logo depois acrescentando “Bom, hoje em dia continua sendo assim...” seguido por uma risada sarcástica. Canção muito bem recebida pelo público presente, a qual tenho certeza que fez com que muitos voltassem para suas casas com luxação no pescoço, devido ao “bate-cabeça” que a mesma proporcionou. Já eram chegados os momentos finais da primeira parte do show, faltando apenas duas musicas para acabar. Sem dar tempo para o povo respirar, Dio anuncia que a próxima musica seria “DIE YOUNG”, que com certeza pode se figurar entre uma das melhores tocadas na noite, ou até mesmo, uma das melhores performances musicais de uma banda no Brasil. Mas qual seria o motivo para eu dar tanto crédito à execução desta música? Simples, meu caro amigo que esta lendo esta resenha, a perfomance de Tony Iommi na guitarra. Este cara é um verdadeiro mestre no instrumento. para muitos é o guitar que fundou e consolidou o estilo musical que se convencionou a chamar de Heavy Metal. E nesta musica, ele teve o momento para demonstrar toda sua técnica e felling. O solo introdutório que ele fez em “DIE YOUNG” deve ser considerado no mínimo maravilhoso. Havia um silencio geral na platéia, onde podíamos ouvir as nossas respirações e batidas do coração. Ninguém se atrevia a gritar ou falar algo durante o momento solo desse exímio guitarrista. Todos acompanhavam boquiabertos, uma das poucas lendas do rock que permanecem vivas, ali na nossa frente, mostrando sua apurada técnica. Mas esse solo e essa canção foram apenas a preparação para o ápice da noite (e neste caso não estou falando do baterista rsss). Ao finalizar a musica, já emendam a que possivelmente é a música mais conhecida da era Dio a frente dos vocais do Sabbath. A canção que dá nome ao primeiro disco gravado por essa formação (excluindo-se o baterista) e que serve como nome da banda a esta nova empreitada. Estamos falando, meus caros amigos, de “HEAVEN AND HELL”. Aqui não há palavras que eu possa vir a utilizar, que expressem o que esta canção passa e causa nos presentes do show. Com aproximadamente 16 minutos de execução, teve muitas passagens instrumentais estendidas durante o show, ganhando mais peso e sonoridade. Sua execução mostra uma banda em plena forma, coesa e muito bem entrosada. Embora tenha demonstrado carisma, simpatia e entrosamento com a platéia durante toda a noite, foi nesta musica que Dio demonstra todo seu carinho pelo público. Seu modo peculiar de “dançar” no palco, seu sorriso e seus agradecimentos foram evidenciados durante a ultima faixa do show. Como um verdadeiro maestro, regeu todo o coro de “ooo ooo oo” que esta música pede. Para aqueles que não puderam estar presentes, terem uma idéia da coesão que este clássico teve no palco, não posso me limitar apenas a falar do entrosamento da banda entre si e com o público; mas sim de todo o resto que a acompanha. O cenário teatral do palco, auxiliado pelas luzes vermelhas e azuis que se intercalavam no palco (demonstrando os momentos “heaven” e os momentos “hell” da letra) junto com o desempenho da banda, fez este que escreve esta resenha literalmente ir as lágrimas. Achei que nunca poderia ver o Sabbath ao vivo, e ainda mais tendo Dio a frente dos vocais (o meu vocalista preferido de todo o gênero), me levou a uma grande emoção. Um dos momentos mais interessantes dessa faixa se dá logo no seu final, quando o show de luzes “desce” da parte superior do palco e abre-se ao meio formando um grande arco sobre o palco, com as luzes direcionadas para o vocalista. Mas tudo que é bom tem um fim, e justamente com esta musica é o findar do show.
Fim? De jeito nenhum, ainda faltava uma música muito conhecida da fase Dio nos vocais. Talvez uma das músicas mais “alegres e bonitinhas” que o Sabbath já gravou. Uma faixa que pela sua letra, levada e clima, poderia muito bem ter sido gravada por alguma banda de hard rock como Van Halen ou de Power metal como Helloween. Estamos falando de “NEON KNIGHTS” que foi o bis da noite, tendo como introdução uma rápida passagem da musica “CONTRY GIRL”. Ultima música do show, em um ritmo acelerado, fazendo com que os que ainda tinham voz e pulmão para cantar (confesso que o meu já havia ido para o saco há muito tempo) se acabassem com esta musica. Um excelente encerramento, para uma noite que se dependesse apenas da banda teria sido perfeita. Mas como o show todo, não depende apenas da banda, temos algumas coisas chatas para se falar ao fim desta resenha. Vamos a elas... Primeiramente em relação à escolha da casa noturna e seu sistema de som. Não podemos negar que o Credicard Hall é uma casa de espetáculos muito bonita, que salta aos nossos olhos seu projeto arquitetônico. Mas como diria minha mãe: Por fora bela viola, mas por dentro pão bolorento. Este velho ditado se aplica aqui perfeitamente. A acústica da casa é um grande problema, alem do seu palco baixo e piso em patamar único. Isto faz com que as pessoas que sejam baixas se sintam prejudicadas para ver o show quando não estão perto do palco. Aliás, um colega meu de 1.80m que ficou na pista normal, mesmo com sua altura reclamou da visão do palco. Se a acústica do local não ajuda em um bom espetáculo, podemos dizer que o sistema de som e o técnico da noite literalmente pisaram na bola. Vários foram os momentos em que o microfone do Dio falhou. A guitarra e o baixo estavam desproporcionalmente altos, parecendo que queria competir com a bateria e o vocal (mas calma ai, acho que já ouvi alguma historia desse jeito na época do live evil hehehe). E em muitos momentos tínhamos uma sensação de que o som estava muito ensurdecedor e totalmente embolado, no qual um instrumento literalmente cobria o som do outro. Tudo isso foi contornado tanto pela simpatia como pela competência da banda em questão, mas vários foram os momentos em que vi Iommi e Dio indo no canto do palco e apontar as caixas de retorno e fazerem uma cara de quem estavam frustrados com o que estava acontecendo. Nestas horas não há como não pensar na Via Funchal, onde já disse em outra resenha e volto a repetir: considero a melhor casa de show de São Paulo. Acústica perfeita, amplo espaço para o público com piso em vários níveis (fazendo com que não importe sua altura ou de onde esteja assistindo o show, você sempre terá uma ótima visão).
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